A RELIGIÃO ISLÂMICA
Origem
O islamismo
foi fundado no ano de 622, na região da Arábia, atual Arábia Saudita. Seu
fundador, o profeta Maomé, reuniu a base da fé islâmica num conjunto de versos
conhecido como Corão - segundo ele, as escrituras foram reveladas a ele por
Deus por intermédio do Anjo Gabriel.
Assim como
as duas outras grandes religiões monoteístas, o cristianismo e do judaísmo, as
raízes de Maomé estão ligadas ao profeta e patriarca Abraão. Maomé seria seu
descendente. Abraão construiu a Caaba, em Meca, principal local sagrado do
islamismo. Para os muçulmanos, o islamismo é a restauração da fé de Abraão.
Ainda no
início da formação do Corão, Maomé e um ainda pequeno grupo de seguidores foram
perseguidos por grupos rivais e deixaram a cidade de Meca rumo a Medina. A
migração, conhecida como Hégira, dá início ao calendário muçulmano. Em Medina,
a palavra de Deus revelada a Maomé conquistou adeptos em ritmo acelerado.
O profeta retornou a Meca anos depois, perdoou os inimigos e iniciou a
consolidação da religião islâmica. Quando ele morreu, aos 63 anos, a maior
parte da Arábia já era muçulmana. Um século depois, o islamismo era praticado
da Espanha até a China. Na virada do segundo milênio, a religião tornou-se a
mais praticada do mundo, com 1,3 bilhão de adeptos.
Profeta Maomé
Maomé nasceu
em Meca, no ano de 570. Órfão de pai e mãe, foi criado pelo tio, membro da
tribo dos coraixitas. De acordo com historiadores, tornou-se conhecido pela
sabedoria e compreensão, tanto que servia de mediador em disputas tribais.
Adepto da meditação, ele realizava um retiro quando afirmou ter recebido a
primeira revelação de Deus através do anjo Gabriel. Na época, ele tinha 40
anos. As revelações prosseguiram pelos 23 anos restantes da vida do profeta.
Contrário à guerra entre tribos na Arábia, Maomé foi alvo de terroristas
e escapou de várias tentativas de assassinato. Enquanto conquistava fiéis,
empregava as escrituras na tentativa de pacificar sua terra - tarefa que
cumpriu antes de morrer, aos 63 anos, depois de retornar a Meca. Para os
muçulmanos, Maomé é uma figura digna de extrema admiração e respeito, mas não é
o alvo de sua adoração. Ele foi o último dos profetas a trazer a mensagem
divina, mas só Deus é adorado.
Conversão
Não é preciso ter nascido muçulmano ou ser casado com um praticante da
religião. Também não é necessário estudar ou se preparar especialmente para a
conversão. Uma pessoa se torna muçulmana quando proferir, em árabe e diante de
uma testemunha, que "não há divindade além de Deus, e Mohammad é o
Mensageiro de Deus". O processo de conversão extremamente simples é
apontado como um dos motivos para a rápida expansão do islamismo pelo mundo. A
jornada para a prática completa da fé, contudo, é muito mais complexa. Nessa
tarefa, outros muçulmanos devem ajudar no ensinamento.
Crenças
A base da fé
islâmica é o cumprimento dos desejos de Deus, que é único e incomparável. A
própria palavra Islã quer dizer "rendição", ou "submissão".
Assim, o seguidor da religião islâmica deve obedecer às escrituras, orar e
glorificar apenas seu Deus e ser fiel à mensagem que Maomé trouxe.
Os
muçulmanos enxergam nas escrituras divulgadas por Maomé a continuação de uma
grande linhagem de profecias, trazidas por figuras que fazem parte dos livros
sagrados dos judeus e cristãos - como Adão, Noé, Abraão, Moisés, Davi e Jesus.
Os cristãos e judeus, aliás, são chamados no Corão Povos das Escrituras, com
garantia de respeito e tolerância.
O seguidor
do islamismo tem como algumas de suas obrigações "promover o bem e
reprimir o mal", evitar a usúria e o jogo e não consumir o álcool e a
carne de porco. Um dos principais desafios do muçulmano é obter êxito na jihad
- que, ao contrário do que muitos acreditam no Ocidente, não significa
exatamente "guerra santa", mas sim o esforço e a luta do muçulmano
para agir corretamente e cumprir o caminho indicado por Deus.
Os muçulmanos acreditam no dia do juízo final e na vida após a morte,
quando o praticante da religião recebe sua recompensa ou sua punição pelo que
fez na Terra. Acreditam também na unidade da "nação" do Islã - uma
crença simbolizada pela gigantesca peregrinação anual a Meca, que reune
muçulmanos do mundo todo, lado a lado.
Cinco pilares
Os cinco
pilares do islamismo formam a estrutura de vida do seguidor da religião. São eles:
• Pronunciar a
declaração de fé intitulada "chahada": "Não há outra divindade
além de Deus e Mohammad é seu Mensageiro".
• Realizar as
cinco orações obrigatórias durante cada dia, no ritual chamado
"salat". As orações servem como uma ligação direta entre o muçulmano
e Deus. Como não há autoridades hierárquicas, como padres ou pastores, um
membro da comunidade com grande conhecimento do Corão dirige as orações. Os
versos são recitados em árabe, e as súplicas pessoas são feitas no idioma de
escolha do muçulmano. As orações são feitas no amanhecer, ao meio-dia, no meio
da tarde, no cair da noite e à noite. Não é obrigatório orar na mesquita - o
ritual pode ser cumprido em qualquer lugar.
• Fazer o que
puder para ajudar quem precisa, no chamado "zakat". A caridade é uma
obrigação do muçulmano, mas deve ser voluntária e, de preferência, em segredo.
O muçulmano deve doar uma parte de sua riqueza anualmente, uma forma de mostrar
que a prosperidade não é da pessoa - a riqueza é originária de Deus e retorna
para Deus.
• Jejuar
durante o mês sagrado do Ramadã, todos os anos. Nesse período, todos os
muçulmanos devem permanecer em jejum do amanhecer ao anoitecer, abstendo-se
também de bebida e sexo. As exceções são os doentes, idosos, mulheres grávidas
ou pessoas com algum tipo de incapacidade física - eles podem fazer o jejum em
outra época do ano ou alimentar uma pessoa necessitada para cada dia que o
jejum foi quebrado. O muçulmano que cumpre o jejum se purifica ao vivenciar a
experiência de quem passa fome. No fim do Ramadã, o muçulmano celebra o
Eid-al-Fith, uma das duas principais festas do calendário islâmico.
• Realizar a peregrinação a Meca, o "haj". Todos os muçulmanos
com saúde e condição financeira favorável deve realizar a peregrinação pelo
menos uma vez na vida. Todos os anos, cerca de 2 milhões de pessoas de todas as
partes do mundo se reúnem em Meca, sempre com vestimentas simples - para
eliminar as diferenças de classe e cultura. No fim da peregrinação, há o
festival de Eid-Al-Adha, com orações e troca de presentes - a segunda festa
mais importante.
O Corão
O livro
sagrado dos muçulmanos reúne todas as revelações de Deus feitas ao profeta
Maomé através do anjo Gabriel. No Corão estão instruções para a crença e a
conduta do seguidor da religião - não fala apenas de fé, mas também de aspectos
sociais e políticos. Dividido em 114 "suratas" (capítuolos), com
vários versículos cada (o número varia de 3 a 286 versículos), o Corão foi
escrito em árabe formal e, com o tempo, tornou-se de difícil entendimento.
O complemento para sua leitura é a Sunna, coletânea de registros de
discursos do profeta Maomé, geralmente em linguagem mais clara e fluente. Cada
uma dessas mensagens tiradas dos discursos é conhecida como "hadith".
Como os relatos foram de pessoas diferentes, há muitas divergências entre os
registros de ensinamentos do profeta: cada um contava a mensagem da forma que o
interessava. Além de contradições, as "hadith" provocaram também uma
expansão dos conceitos do Islã, ao incorporar tradições e doutrinas sobre
sociedade e justiça - aspecto importante na formação da cultura islâmica em
geral, que não ficou restrita à religião.
Sharia
É a lei
religiosa do islamismo. Como o muçulmano não vê distinção entre o aspecto
religioso e o resto da sua conduta pessoal, a lei islâmica não trata só de
rituais e crenças, mas de todos os aspectos da vida cotidiana. Apesar de ter
passado por um detalhado processo de formatação, a lei islâmica ainda é
aplicada de formas variadas ao redor do mundo - os países adotam a sharia têm
interpretações mais ou menos rigorosas dela.
Na Arábia Saudita, por exemplo, vigora uma das mais conservadoras
versões da lei islâmica. O Afeganistão da época da milícia Talibã teve a mais
dura e radical aplicação da sharia nos tempos modernos - proibia música e
outras expressões culturais e esportivas, restringia gravemente todos os
direitos das mulheres e ordenava punições bárbaras. A sharia, porém, é adotada
formalmente numa minoria de países com grandes populações islâmicas.
Fonte: Revista Veja